Confira a partir de hoje esta série especial do Movimento Econômico sobre o cenário que se desenha para os estaleiros no Brasil a partir do novo PAC
Os números do ambicioso programa de retomada do setor implementado no ciclo anterior do PT na presidência da República evidenciam a grandiosidade pretendida, à época, pela iniciativa. De acordo com o estudo do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a instituição somou, entre 2000 e 2012, valores contratados de R$ 30 bilhões em financiamentos para o setor.
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Desse valor, R$ 10 bilhões foram liberados, dos quais R$ 2,2 bilhões para a construção de novos estaleiros – como Atlântico Sul Heavy Industry Solutions (PE) e Enseada do Paraguaçu (BA) - e modernização de plantas navais já instaladas. Esses fabricantes deveriam atender prioritariamente à demanda da Petrobras e Transpetro, que chegou a encomendar 26 navios petroleiros por meio do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef).
Estaleiros no Brasil chegaram a gerar 80 mil empregos
O horizonte de bons ventos e benesses estatais gerou um pico de 80 mil empregos diretos na indústria naval do país.
Esse projeto, no entanto, da mesma forma que o Titanic, esbarrou num iceberg cuja composição incluía erros primários de concepção e gestão de uma política pública de desenvolvimento, escândalos de corrupção escancarados pela Operação Lava-Jato e uma crise política e financeira na Petrobras, entre outros elementos tóxicos.
O naufrágio deixou, como saldo, um prejuízo bilionário para os cofres públicos, Petrobras, Transpetro e estaleiros. Foram canceladas 14 encomendas de navios petroleiros e 28 de navios-sondas (perfuração). Sessenta mil empregos desapareceram.
Isso, sem falar nos impactos sociais em regiões – como Ipojuca, em Pernambuco - que tinham se transformado em novos polos navais, com uma elevação substancial da renda per capita, circulação de dinheiro e arrecadação de impostos. Uma riqueza que simplesmente evaporou com a derrocada que sucedeu o curto período de retomada.
O secretário-geral do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Sérgio Leal, defende que a demanda identificada pela Petrobras e pela Transpetro volte a ser atendida prioritariamente pelos estaleiros brasileiros, para que seja promovida “a recuperação do setor e a geração de empregos de qualidade”.
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Mas está ciente dos riscos em que essa aposta implica. “No ciclo anterior de retomada, a descontinuidade de encomendas causou uma interrupção nas curvas de aprendizagem para melhoria da produtividade e competitividade das plantas navais do Brasil e no desenvolvimento tecnológico”, analisa.
“Além disso, milhares de empregos foram perdidos, causando a perda de qualificação da mão-de-obra que tinha sido formada com muito esforço pelas empresas, governos e academia”, acrescenta.
Para o executivo, “houve reflexos negativos não apenas nos estaleiros, mas no segmento como um todo”. “Muitas empresas fornecedoras da indústria naval tiveram que migrar para outros mercados e o esforço de capacitação e adensamento da cadeia produtiva se perdeu”, ressalta.
Leal destaca que entre os principais erros a serem evitados em uma nova política pública para reativação do setor está a exigência de níveis inatingíveis de conteúdo nacional.
“O percentual de nacionalização para os navios petroleiros ainda não está ainda definido. É algo que vai depender de conversações que estão acontecendo entre Petrobras, Transpetro, indústria naval e governo federal. Acreditamos que será um índice maior do que o praticado hoje, porém muito mais realista que os 65% adotados no Promef”, frisa.
Otimista, ele acredita que “as experiências negativas servirão de lições para o futuro e seremos bem-sucedidos em nossos esforços de reanimar os estaleiros”. Procurados, os estaleiros de Pernambuco – Atlântico Sul Heavy Industry Solutions e Vard Promar, ambos no Complexo de Suape – não quiseram se manifestar sobre o PAC 3.
Fonte: folhape.com.br
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