Dados da Central de Regulação de Leitos de Pernambuco mostram que, nesta terça-feira (25), há 357 pessoas à espera de vaga em Unidade de Terapia Intensiva no estado.

Pernambuco tem, nesta terça-feira (25), 357 pessoas com sintomas da Covid-19 na fila por um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). São 19 crianças, 21 recém-nascidos e 317 adultos, de acordo com dados da Central de Regulação de Leitos do estado (veja vídeo acima).


Na segunda-feira (24), Pernambuco bateu recorde nessa fila, com 364 pessoas esperando vaga em leitos de UTI, maior número registrado no estado desde o início da pandemia, em março de 2020. Nesse mesmo dia, havia 2.963 pessoas internadas em leitos dedicados a pacientes com sintomas respiratórios, das quais 1.705 estavam em leitos de UTI.

A dona de casa Eunice Marques da Silva foi internada no domingo (23), na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Cohab, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife. Eunice tem 50 anos, é hipertensa e recebeu indicação de transferência para um leito de UTI, de acordo com a filha dela, a dona de casa Maria Eduarda Santos.



“Ela está com falta de ar e muita secreção no pulmão. Desde ontem [segunda-feira, 24 de maio], o médico tenta conseguir uma vaga em UTI para ela. Faz 11 dias que ela começou a ter dor de garganta, febre e dor de cabeça. A dificuldade respiratória começou no domingo [23 de maio] e, por causa disso, ela foi internada”, afirmou.


Na família, a filha de Eunice também ficou doente, mas sequer conseguiu fazer o teste para detectar a doença. “Eu tenho duas crianças pequenas e não tenho com quem deixar para ir me testar. Por causa disso, também não consigo ir à UPA para ter notícias da minha mãe. É uma situação muito complicada”, disse.


O pai do advogado Caio Moura precisou esperar cerca de 30 horas por um leito de UTI. Segundo o filho, Mário Moura foi levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para a Policlínica Barros Lima, na Zona Norte do Recife, onde sequer teve condições de aguardar transferência para ser intubado.

“Ele chegou lá no sábado [22 de maio] de manhã. A assistente social ia fazer uma chamada de vídeo conosco à tarde, mas ele teve que ser intubado antes disso, num leito de estabilização. Somente no domingo [23 de maio], por volta das 14h, é que conseguiram uma vaga no antigo Alfa [hospital em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife]. Foram 30 horas de espera”, afirmou.


Falta de ambulância e rede particular

Vanessa Monteiro da Silva tem 28 anos e também está internada, lutando contra a Covid-19. Ela foi levada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Olinda e, depois de conseguir a vaga em uma UTI, esbarrou na falta de ambulância para que fosse transferida, segundo a irmã dela, Maria Carmem Monteiro.


Após chegar à UPA na quinta-feira (20), Vanessa foi transferida somente na noite da segunda-feira (24) para o Hospital Nossa Senhora do Ó, no bairro do Prado, na Zona Oeste do Recife. “Ela está com sintomas de cansaço, falta de ar, e ficou aguardando ambulância, sem previsão de ser transferida”, disse Maria Carmem.



O problema, embora seja mais grave na rede pública, não se restringe aos leitos regulados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Patrícia Cristina Melo divulgou um vídeo nas redes sociais falando sobre a situação do marido.


Regivan Tenório Oliveira estava internado no Hospital D’Ávila, na Zona Oeste da capital, e precisava ser levado a um hospital de maior porte. Ao todo, foram 24 horas até ele conseguir a vaga.

“Ele precisa de um hospital de grande porte para fazer exames de alta complexidade, que o D'Ávila não disponibiliza. E não tem vaga. Ontem [segunda-feira, 24 de maio], ele não tinha condições de ser transferido. Hoje [terça-feira, 25 de maio], ele tem”, disse Patrícia, no vídeo.


Dificuldade de atendimento em Escada

O Hospital Regional de Escada, na Zona da Mata Sul, ficou até a noite da segunda-feira (24) com o plantão restrito a atendimento de pacientes com Covid-19 devido à alta demanda. Pacientes que buscaram atendimento no local com outros problemas de saúde não eram atendidos (veja vídeo acima).


A secretária de Saúde do município, Jacilene Galdino, explicou que a unidade de saúde tem quatro leitos na ala vermelha, voltada a casos mais graves, sendo dois deles para pessoas com Covid-19.



"Restrição em [hospital de] urgência pode acontecer em qualquer lugar do Brasil, principalmente nesse momento crítico de pandemia. Restrição acontece quando nossa ala de Covid está superlotada", explicou.


A alta demanda, lembrou a secretária, está em toda a rede pública. Na noite de segunda-feira (24), a ambulância do município deixou a unidade para levar um paciente para o Hospital Dom Hélder Câmara, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, mas não havia mais a vaga reservada quando chegaram ao local.

"Não tinha mais vaga de leito lá. Fomos encaminhados para o [Hospital] Pelópidas [Silveira, no Recife], mas o plantão estava fechado, superlotado", contou.


O paciente foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Agamenon Magalhães, na Zona Norte do Recife.


Resposta do estado

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou que "atualmente, Pernambuco possui o 6º maior quantitativo de leitos de UTI para a Covid-19 na rede pública do país e o maior entre os estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste".


A secretaria afirmou, ainda, que "os esforços para continuar ampliando a assistência na rede própria continuam e o governo do estado também mantém aberto chamamento público emergencial para habilitar leitos das redes municipais ou complementar (filantrópica, privada)".


A previsão do governo é de abrir mais 30 novos leitos, ainda em maio, em Bezerros, Caruaru e Garanhuns, cidades do Agreste de Pernambuco.


O governo afirmou, ainda, que "diante da aceleração da doença no estado, que tem pressionado a rede de saúde, impactando na fila e no tempo de espera por um leito", anunciou novas medidas restritivas, e que a SES "mantem o diálogo com as gestões municipais, reforçando a importância de leitos de retaguarda nos serviços locais, e apoiando com o envio de equipamentos, como concentradores de oxigênio".

Por fim, a SES afirmou que a ferramenta Atende em Casa, disponível na internet, segue ativa "para auxiliar o atendimento à população", garantindo "orientações virtuais de profissionais capacitados sobre o novo vírus, por meio de videochamada".


"Um médico pode orientar o paciente a procurar uma unidade próxima da sua casa, evitando que a população procure as unidades de saúde desnecessariamente, diante do atual cenário causado pela pandemia da Covid-19", disse a SES.

g1.globo.com/pe