Parto de Amanda Ramos ocorreu na sexta-feira (30), dois dias depois que a vendedora Amanda Lorraine Gonçalves de Lima faleceu após uma cesariana, em Timbaúba. Família da paciente do segundo caso diz que o mesmo médico fez os dois partos.
Mais uma mulher morreu horas após dar à luz na Maternidade Doutor Tito Ferraz, que fica no Hospital Memorial Doutor João Ferreira Lima, em Timbaúba, na Zona da Mata. O parto foi feito na sexta-feira (30), dois dias depois que a vendedora Amanda Lorraine Gonçalves de Lima, de 23 anos, faleceu após uma cesariana realizada na mesma unidade de saúde.
A segunda morte foi a da dona de casa Amanda Ramos de Melo, de 34 anos. De acordo com a família, o parto dela foi feito na rede particular, diferente da mulher do primeiro caso, que teve a filha por meio de um convênio com a prefeitura. A parceria, segundo a gestão municipal, foi suspensa após os óbitos.
Durante o procedimento, o médico responsável pelo parto de Amanda Melo faria uma laqueadura por meio de uma ligadura das trompas. No entanto, foi realizado um procedimento chamado histerectomia, que é quando o útero é retirado por completo.
"Ela estava com 40 semanas, teve uma gravidez comum, era saudável e fez o pré-natal. Os problemas já começaram com a histerectomia, que não foi combinada com ela. O médico foi o mesmo do outro caso em que a mulher morreu dois dias antes. Ela saiu da sala de cirurgia e foi para o quarto. Amamentou o filho e aí passou a ter hemorragia e paradas cardiorrespiratórias", disse a prima de Amanda Ramos, a bacharela em direito Karla Rayane Prazeres.
O bebê, chamado Lucas Miguel, foi o segundo filho de Amanda Ramos. Ele passa bem e não teve nenhum problema após o nascimento. A mulher morava em Carpina, também na Zona da Mata, e decidiu fazer o parto no hospital de Timbaúba para fazer a laqueadura.
"A maternidade não tem Unidade de Terapia Intensiva e não tem condições de fazer um procedimento desse tipo. Ainda em Timbaúba, decidiram transferir ela para o Hospital das Clínicas, no Recife. Mas, antes disso, logo que ela entrou na ambulância, piorou e precisou ser levada para a UPA de Timbaúba. De lá, foi transferida para o Hospital Ermírio Coutinho, em Nazaré da Mata. Lá ela morreu", disse a prima da mulher.
A morte das duas Amandas ocorreu horas depois de dar à luz. Nos dois partos, as famílias denunciam terem sido vítimas de negligência por parte do hospital. No primeiro caso, a família afirmou que a mulher foi vítima de negligência por ter ficado seis horas passando mal, sem atendimento médico. A Polícia Civil investiga o caso como "morte a esclarecer".
O corpo de Amanda Ramos foi levado para uma unidade de saúde de Carpina e, posteriormente, foi encaminhado ao Instituto de Medicina Legal, no Centro do Recife, onde passou por perícias. O enterro ocorreu na tarde deste sábado (1º), no Cemitério de Carpina.
Sobre esse segundo caso, a Polícia Civil informou que não localizou "o registro de ocorrência com os dados fornecidos". O G1 também entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe), mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.
O advogado Gilderson Correia, que acompanha os dois casos, disse que vai solicitar à Justiça a interdição da maternidade. "O Ministério Público precisa intervir no fechamento total da maternidade. Vou requerer uma liminar, em tutela de urgência, para que isso não volte a acontecer", afirmou (veja vídeo acima).
A prima de Amanda Ramos contou que a família inteira está desolada e que pretende buscar na Justiça a punição do médico que fez o parto.
"É mais uma perda. Uma mãe sem consolo, duas crianças sem mãe, uma família desamparada e um médico solto, correndo risco de fazer o mesmo com outras famílias. Vamos fazer de tudo para que isso não fique impune, porque é quase que uma obrigação fazer com que isso não se repita", disse Karla Rayane.
Por meio de nota, a prefeitura de Timbaúba declarou que, "devido à evidente falha no cumprimento no plano operacional acordado com o Instituto Memorial João Ferreira Lima, suspendeu todos os atendimentos públicos de maternidade e cirurgia, por tempo indeterminado, até que o hospital prove, de forma legal, o cumprimento correto e integral do plano".
A gestão municipal também afirmou que, caso a parceria para atender usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) seja retomada, haverá duas pessoas, 24 horas por dia, fiscalizando o atendimento.
"Mais uma grávida atendida, desta vez pela modalidade particular, perdeu a vida, demonstrando, para nós, que é um problema no atendimento do hospital, seja ele público ou privado", afirmou a prefeitura, na nota.
O G1 também tentou contato com o diretor do hospital, mas ele não atendeu às ligações até a última atualização desta reportagem.
0 Comentários
A sua mensagem foi recebida com sucesso!