Ari Friedenbach foi vereador em São Paulo entre 2013 e 2016 (Foto: André Bueno/Câmara de Vereadores de São Paulo)
Ari Friedenbach foi vereador em São Paulo entre 2012 e 2016. Advogado por formação, ele entrou na política por causa da filha, Liana Friedenbach, vítima de um crime bárbaro que chocou o Brasil em 2003. A vida partidária, no entanto, foi uma decepção.
Ela e o namorado, Felipe Caffé, foram acampar acabaram sequestrados e mortos por Champinha.
“Minha filha morreu em 2003 e eu comecei a participar da política apartidariamente, por causa de um projeto que eu acabei construindo ao longo dos anos, em relação à maioridade penal”, conta. Ari, ao contrário do que muitos pensam, não é a favor da redução da maioridade penal.
“Sempre fui contra a redução da maioridade penal e construí um projeto bastante interessante, a respeito da punição dos menores infratores que cometem crimes de extrema gravidade, mas não reduzindo a maioridade penal para 16 anos”, explicou Ari, em conversa com o Yahoo! Notícias.
Primeira tentativa de entrar na política
Foi em 2010, sete anos após a morte da filha, que Friedenbach decidiu entrar para a política partidária. Ele se candidatou ao posto de deputado federal, já que a legislação que diz respeito aos menores infratores é de âmbito federal.
Por convite de um amigo, ele se filiou ao antigo PPS, atualmente o Cidadania. Ele admite que não tinha identificação ideológica com o partido e aceitou por ter proximidade com outro filiado. Na ocasião, ele não teve estrutura relevante para fazer a campanha, mas, por ter aparecido na mídia, conseguiu uma votação expressiva – no entanto, não foi suficiente para se eleger.
“Nem eu, nem o partido, nem ninguém esperava que eu fosse ter uma votação assim, tive 80 mil votos”, lembra. Com o alto número de votos, Ari foi convidado pelo partido para trabalhar na Secretaria do Trabalho do governo de São Paulo.
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Experiência como vereador
Na eleição seguinte, em 2012, ele se candidatou ao posto de vereador. Após desentendimentos e desgastes políticos com o partido, Ari Friedenbach saiu do PPS e começou a “pular de partido para partido”, como ele mesmo definiu.
“Eu era muito inexperiente e, por causa disso, fui para um partido, acreditava muito no que falavam... Fui para o PROS, acreditei no que me falavam, que seria um partido decente – e foi extremamente indecente”, desabafa. Ele foi depois para o PHS. “Eu fui acreditando, acreditando e foi uma desilusão atrás da outra”, diz Ari Friedenbach.
O ex-vereador não poupou elogios ao ex-prefeito Fernando Haddad, do PT, partido ao qual Ari nunca se filiou. “Claramente meu apoio sempre foi ao Haddad. Não era ao Haddad, mas de pensar nas pessoas que realmente precisavam de apoio, às pessoas mais carentes”, conta. Ele classifica o ex-prefeito como um homem à frente de seu tempo.
Ari sabe que os votos que o elegeram saíram da classe média e de pessoas mais privilegiadas, mas conta que tentou trabalhar com pessoas mais pobres. Quando tentou se reeleger, focou na periferia e não teve sucesso. Ele avalia que trabalhou de forma correta, mas, hoje, entende que ser correto não significa ter votos.
“A gente vive no Brasil uma política muito complicada, a venda do voto é uma coisa muito arraigada na nossa população. Um exemplo bobo: eu, quando estava fazendo campanha de reeleição, estava na periferia, na Zona Oeste, e conversando com alguns caras na frente de um boteco e eles me pediram para pagar uma caixa de cerveja”, relata. “Eu falei ‘você tem que me pedir hospital, escola para o seu filho, não caixa de cerveja’, mas as pessoas não estão preocupadas com isso.”
“Se você não der caixa de cerveja, ele vai votar no candidato que deu cerveja, cesta básica, tijolo para a construção. As pessoas são muito imediatistas”, classifica.
Ari acredita que o brasileiro, de forma geral, é despolitizado. O ex-vereador não distingue as classes sociais, acredita que a crítica se aplica a todos. “O rico não vende o voto, mas ele tem um olhar irresponsável e egoísta. Se a gente vê, a classe média, é muito egoísta”, opina.
Ari usou a pandemia de coronavírus para exemplificar a falta de empatia das pessoas. Ele aponta que muitos cobram a reabertura do comércio, mas não exigem a ampliação da vacinação.
Frustração na reeleição
Ari Friedenbach não conseguiu ser reeleito. Apesar de acreditar que fez um trabalho de excelência, ele classificou a votação que teve em 2016 como “pífia”, de cerca de 8 mil votos. Mesmo assim, ele gostou muito da experiência.
“Eu nunca trabalhei tanto na minha vida, durante os quatro anos eu trabalhei de domingo a domingo. Eu adorei ser vereador. É o ‘chão de fábrica’, você está em contato com a realidade, um trabalho extremamente bacana se você quiser se dedicar”, afirma.
“Mas, a realidade para você se reeleger é muito complicada”, desabafa. Ele acha que não teve o trabalho reconhecido, o que o deixou decepcionado e triste.
Outro fator que atrapalhou, na opinião de Friedenbach, foi que o partido ao qual estava filiado, o PHS, não permitiu que ele tivesse tempo de televisão. “Não pedi um real para a campanha, pedi tempo de televisão, as pessoas precisavam lembrar de mim”, diz. A legenda garantiu que daria esse tempo a ele, mas Ari relata que “levou uma rasteira”.
“Foi uma enorme decepção, eu não consegui mostrar para ninguém o que eu tinha feito”, afirma. Em 2018, ele concorreu ao cargo de deputado estadual pelo PDT, mas tampouco foi eleito.
Atualmente, Ari Friedenbach se considera um ativista dos Direitos Humanos e diz que está feliz atuando dessa forma.
“Hoje, me considero mais importante sendo um ativista dos direitos humanos, mas não vou dizer que nunca voltaria para a política, mas, sinceramente, nesse momento da política, fico feliz de estar fora”, opina. Ele acredita que não conseguiria dialogar com apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), da direita radical e negacionistas.
Mesmo após cinco anos fora da política, Ari conta que recebe até hoje mensagens de pessoas que se arrependeram de não votar nele, mas diz: “Hoje, não adianta”.
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