O entregador Breno da Cruz registrou um boletim de ocorrência contra Jader Martins nesta terça-feira (13) após ser criticado em vídeo postado em rede social de hamburgueria no sábado (10).


O dono de uma hamburgueria na Zona Oeste do Recife que criticou, em um vídeo postado no perfil da lanchonete no Instagram, um entregador de aplicativo por usar bermuda é investigado pela Polícia Civil por injúria (veja vídeo acima).


O entregador Breno da Cruz, de 18 anos, registrou um boletim de ocorrência, nesta terça-feira (13), contra Jader Martins, que foi chamado para prestar esclarecimentos na Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos, localizada no bairro de Santo Amaro, na área central da capital pernambucana.

O vídeo feito por Jader comparando a roupa de Breno com a dos entregadores da hamburgueria foi publicado na página da lanchonete nessa rede social com mais de 60 mil seguidores. O caso ocorreu no sábado (10), após Breno buscar um pedido na Jader Burguer, no bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife (veja vídeo abaixo).

O jovem passou duas horas na delegacia. Além de registrar um boletim de ocorrência, ele prestou depoimento e assinou uma representação pelo vídeo que foi publicado sem a sua autorização.


Em uma postagem na mesma rede social, Breno se posicionou sobre o que aconteceu e disse que valorizar o trabalho dos entregadores é essencial.

"Não sou seu funcionário e não preciso trabalhar com suas regras. Não estar vestindo uma calça significa que estou trabalhando errado?", declarou o entregador sobre as críticas feitas pelo dono da hamburgueria.

De acordo com o delegado Eronides Meneses, responsável pelas investigações, além do dono da lanchonete e do entregador, também será ouvida uma testemunha. "Tem o agravante, que é quando a injúria é praticada na presença de várias pessoas ou por meio que facilite a divulgação", afirmou.


O delegado contou que, a princípio, visualiza a elaboração de um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), já que a pena prevista para o crime é inferior a dois anos. "Durante a investigação, dependendo do que for apurado, pode mudar e virar inquérito", disse.

Eronides Meneses falou, ainda, sobre a importância de crimes de injúria serem denunciados. "Quem se sentir lesado precisa denunciar para gerar um antecedente para a pessoa que praticou o crime porque, em caso de reincidência, a pessoa perde o benefício de um acordo judicial ou uma condenação menor", explicou.

As imagens publicadas na rede social da hamburgueria mostram o momento em que Jader reclama porque Breno estava de bermuda, o que, segundo o dono da lanchonete, não é o "padrão" do seu estabelecimento (veja vídeo acima).


"Motoqueiro do iFood é assim, de bermuda. Motoqueiro do Jader Burguer é de calça e sapato, mesmo se tiver rasgada. É padrão. Quando você vê o motoqueiro chegando com Jader Burguer na sua casa daquele jeito, é porque é do iFood. Menino bom, mas está de bermuda", disse Jader, no vídeo.


As imagens viralizaram e Breno recebeu o apoio de amigos entregadores e desconhecidos. O entregador disse que passou constrangimento e foi exposto na internet.

"Acho que a minha roupa estava normal e isso não influencia em nada em uma entrega. Me constrangeu, me deixou humilhado e, desde aquele dia, não consegui realizar entregas. Eu quero justiça e mais respeito para os entregadores", declarou Breno.


Defesa dos envolvidos

O advogado Luiz Maranhão, que representa o entregador, afirmou que também irá ingressar na Justiça com ação por danos morais, materiais e lucros cessantes.


"Vamos pedir a reparação de danos a personalidade do jovem trabalhador, os danos pela perda de oportunidade de trabalho e dos prejuízos materiais decorrentes dessa atitude ilegal e imoral que foi cometida contra o trabalhador", declarou Luiz.

Após a repercussão do caso, Jader publicou outro vídeo dizendo não entender onde errou e reclamando por estar sendo julgado pelas pessoas. Ele também pediu desculpas ao entregador e a todas as pessoas que se sensibilizaram com a situação (veja vídeo acima).


Em nota enviada ao G1 nesta terça-feira (13), Jader afirmou que não teve "o intuito de macular a honra do entregador que se sentiu ofendido, quando me referi à sua vestimenta, quis abranger no tocante à sua segurança".

Ele disse que "a utilização de calça é, de certo modo, essencial pelos entregadores para que reste preservada sua segurança durante o período laboral e, por isso, na hamburgueria Jader Burguer, os funcionários que realizam as entregas utilizam a calça como vestimenta de trabalho para que seja amparada a sua integridade física".


Ainda na nota, o dono da lanchonete contou que reconhece que foi "infeliz" nas palavras, "implicando numa interpretação totalmente diversa a minha real intenção".


"Peço minhas profundas desculpas ao Breno e entendo sua mágoa. Cabe evidenciar que compreendo plenamente a inestimável importância desses profissionais, e inclusive, no início do repercutido vídeo, inicio falando da importância de ajudá-los por meio de gorjeta, como também sempre estive ao lado dos meus funcionários prestando todo o apoio necessário durante a atual pandemia", declarou Jader.



Ele finalizou o comunicado afirmando que não teve "o intuito de humilhar ou degradar a honra do Sr. Breno" e pediu "desculpas a todos os profissionais que se sentiram ofendidos".

Resposta do aplicativo

Também por meio de nota, o iFood prestou solidariedade ao entregador e afirmou que entrou em contato com ele para também oferecer apoio psicológico.


"A empresa reitera que repudia qualquer ato de discriminação e preza pelo respeito em todas as relações que mantém com os seus parceiros e a sociedade", disse.


O texto também trouxe a orientação de que, em casos assim, é importante entrar em contato pelos canais oficiais de atendimento. "Ao receber qualquer tipo de relato como este, o iFood apura as ocorrências. A empresa está à disposição para colaborar com a investigação do caso", declarou.

g1.globo.com/pe/pernambuco