Nos 11 primeiros meses de 2019, foram 52 casos do tipo e, no mesmo período de 2020, número subiu para 66. Para famílias com mulheres assassinadas, luto divide espaço com vontade de justiça.
De janeiro a novembro de 2020, o número de feminicídios em Pernambuco aumentou 26,9%. O total de 52 registros nos primeiros 11 meses de 2019 subiu para 66 no mesmo período do ano seguinte. Para as famílias que perderam filhas, mães, irmãs e sobrinhas, o vazio da ausência e o luto convivem com a vontade de que a Justiça cumpra seu papel (veja vídeo acima).
Um desses casos é o de Josiane Oliveira. A saudade da filha, Leandra Gennifer da Silva, acompanha a autônoma desde fevereiro de 2020, e, para acalmar o coração, ainda em pedaços, restam apenas as fotografias.
“Sempre vem aquela imagem na minha mente e vai ser uma imagem que não vai acabar nunca. Você olhar para a foto e saber que só vai poder admirar através das fotos. É por isso que as fotos, hoje em dia, são muito importantes na vida da gente, porque acalmam muito o coração. A gente pensa que aquela pessoa está de viagem, pensa que vai voltar, mas a gente sabe que não vai”, disse.
Leandra tinha 22 anos quando foi assassinada a tiros pelo companheiro dentro de casa, no bairro da Madalena, na Zona Oeste do Recife. O filho do casal, na época com 1 ano de idade, estava no local na hora do crime. A jovem ainda deixou outro filho e, desde então, dona Josiane cuida dos netos.
“Hoje eles não são meus netos, são meus filhos. Na realidade mesmo, eu queria criar junto com ela, eu queria que a mãe ficasse presente, queria ajudar de uma forma diferente, como avó. Hoje eu estou como mãe”, contou a autônoma.
Enquanto luta para superar a dor, Josiane espera pelo julgamento de Raphael Cordeiro Lopes, que foi preso por feminicídio.
“Eu quero, sim, que a Justiça faça o seu papel. Várias vezes eu já vi reportagem na televisão e eu nunca imaginei acontecendo comigo, então é uma dor que nunca mais você vai recuperar. Essa é uma dor que nunca vai cicatrizar, sempre vai estar aqui dentro”, afirmou.
Atendimento às vítimas
“Que minha solidão me sirva de companhia, que eu tenha a coragem de me enfrentar, que eu saiba ficar com o nada e, mesmo assim, me sentir como se estivesse plena de tudo.” A frase fica na recepção do Centro Especializado em Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência, no Recife, e emociona muitas delas, que vão até o local pedir ajuda.
“Nós acolhemos essas mulheres, preservando principalmente o sigilo de tudo que aqui é discutido, fazemos a escuta através do serviço social e, de acordo com o que ela traz, de acordo com a sua demanda, nós encaminhamos para o setor jurídico”, explicou a coordenadora do Centro Clarice Lispector, Avani Santana.
Existem, atualmente, mais de 10 mil prontuários ativos. Em cada envelope, há uma história de vida. “Para nós, não existe arquivo morto. Só saem prontuários de nossos arquivos quando acontecer, e se acontecer, de essa mulher vir a óbito. A qualquer momento da história da vida desta ou de qualquer mulher, ela está passível de sofrer uma violência”, declarou Avani.
Centro Clarice Lispector acolhe e orienta mulheres vítimas de violência, no Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
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