BMW e Land Rover estão entre veículos. Segundo delegado da PF, lotéricas pertenciam a agentes políticos. Documentos também foram apreendidos na ação, denominada Mapa da Mina.

A Polícia Federal (PF) desencadeou, nesta quarta-feira (11), uma operação contra um grupo suspeito de utilizar casas lotéricas de agentes políticos para "lavar dinheiro" de desvios de verba pública e de corrupção. Entre os bens apreendidos, segundo a PF, estavam carros de luxo das marcas BMW e Land Rover, além de documentos (veja vídeo acima).

"Os agentes políticos interferiam nas licitações para favorecer o grupo empresarial e, por outro lado, as empresas beneficiavam as lotéricas que eram dos agentes políticos", afirmou delegado regional executivo da PF, Bernardo Gonçalves Torres, responsável pela investigação.


Os cinco estabelecimentos, de acordo com a PF, são mantidos “apenas para viabilizar o processo de lavagem de dinheiro, já que as lotéricas não geram lucros reais para seus sócios”. Feitas desde 2013, as transferências ultrapassam R$ 14 milhões.


Ao todo, foram 25 mandados de busca e apreensão para endereços no Grande Recife, em Caruaru, no Agreste, e em Floresta, no Sertão, dentro da operação Mapa da Mina, que contou com apoio da Controladoria Geral da União (CGU).

De acordo com o delegado, alguns dos mandados foram cumpridos na casa de políticos pernambucanos. Os nomes não foram divulgados porque o processo corre em segredo de Justiça, segundo a PF.



"Na residência de alguns desses agentes políticos, encontramos muitas mídias. Não temos como dizer, até o momento, quanto foi arrecadado. Trata-se de um conluio criminoso envolvendo empresários e políticos. Os políticos influenciam na dispensa indevida de licitações em favor desse grupo empresarial, que é composto de uma empresa de vigilância e de prestação de serviços", disse.


Ao menos uma loteria, com o mesmo nome da ação desta quarta, foi alvo de mandado, segundo a PF. O G1 tentou contato com a loteria, mas não conseguiu.

A investigação começou a partir de outra ação da PF, denominada Decimus, que identificou um grupo empresarial comandado por oficial da Polícia Militar com atuação na área de vigilância e de serviços gerais. Apenas duas empresas desse grupo receberam, desde 2013, cerca de R$ 175 milhões dos cofres públicos. No entanto, a PF não informou se esse dinheiro teria sido desviado.


A PF afirmou que esse grupo teve "crescimento econômico vertiginoso a partir de 2013" através de contratos com entidades públicas municipais, estaduais e federais, mediante dispensas de licitação suspeitas ou processos licitatórios direcionados.


Segundo a CGU, as possíveis irregularidades teriam ocorrido na 3ª Superintendência Regional da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e em outros órgãos. O G1 entrou em contato com a Codevasf, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.

"O que a gente está tentando investigar é como se deu essa fuga de recursos financeiros. É possível que a gente tenha contratos que não tenham sido realizados na extensão do que estava previsto", disse o superintendente da CGU em Pernambuco, Fábio Araújo.


A CGU afirmou, em nota, que uma das empresas investigadas foi beneficiada por "irregularidades nas fases de verificação da habilitação e de análise de recursos em pregão" dessa regional.


Ainda de acordo com a nota, através da quebra de sigilo, os investigadores encontraram trocas de mensagens entre representantes do grupo e empregados públicos da companhia com o "intuito de garantir, irregularmente, a manutenção de contrato já firmado entre as partes".



Na primeira fase da operação, os indícios encontrados pela PF apontaram que os políticos investigados atuavam em parceria com o grupo empresarial junto a dirigentes de órgãos públicos, com o objetivo de direcionar licitações – ou a dispensa delas – para favorecer as empresas.



Os envolvidos podem responder pelos crimes de lavagem de dinheiro, fraude a licitações, peculato e corrupção ativa. Além de 100 policiais federais, auditores da Controladoria Geral da União participaram do cumprimento dos mandados.

Operação Decimus

Em abril de 2018 a Operação Decimus investigou irregularidades em duas empresas de segurança privada no Recife. Durante a ação, um tenente-coronel da Polícia Militar de Pernambuco foi detido e foram apreendidos cerca de 33,5 mil dólares em espécie, além de R$ 220 mil e seis armas de fogo e 150 munições de calibres diversos.


Além do dinheiro e das armas, a PF também apreendeu sete discos rígidos, dez celulares, um tablet, cinco notebooks, três agendas, 2.200 folhas de cheques com valores diversos, carimbos, cartões magnéticos e documentos. Na data, as investigações apuraram a relação do oficial da PM com uma das empresas de segurança que foi alvo da operação.

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