Em delação, empresário Henrique Domingues Neto contou ainda que o arrecadador de campanha de Rollemberg indicou "todos os diretores do BRB"



Imagem cedida ao Metrópoles

delação do empresário Henrique Domingues Neto revela detalhes de como Ricardo Leal (foto em destaque), arrecadador de campanha de Rodrigo Rollemberg (PSB) e ex-conselheiro do Banco de Brasília (BRB), teria usado a instituição financeira para desviar recursos públicos. Segundo depoimento de Neto ao Ministério Público Federal (MPF), Leal comandava a estrutura da instituição bancária extraoficialmente, e uma “filial” do BRB funcionava no escritório da Nutriz Comercial de Imóveis. A empresa pertence a Ricardo Leal.

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A Nutriz foi alvo da segunda fase da Operação Circus Maximus, que apura denúncias no BRB envolvendo a gestão passada. Em 21 de março, foram cumpridos mandados de busca e apreensão na empresa, suspeita de ser usada para lavagem de dinheiro.

O MPF apura se a Nutriz está envolvida em negócios imobiliários com a BKK Consultoria em operações para lavar o dinheiro obtido pela suposta organização criminosa denunciada. No total, 17 suspeitos tornaram-se réus na Justiça Federal, incluindo o ex-conselheiro do banco.

Segundo o delator, Leal indicou “todos os diretores do BRB” após a campanha de Rodrigo Rollemberg (PSB) em 2014, e sobre eles tinha poder de chefia. “Os referidos diretores, depois de empossados, se reportavam diretamente a Ricardo Leal”, assinalou Henrique Neto em depoimento ao Ministério Público.

O delator detalhou que conhece Leal “de longa data”, mas a reaproximação ocorreu quando o filho de Neto, Henrique Leite Domingues, era diretor da BRB Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários (BRB/DTVM) e Leal estava à frente da instituição bancária informalmente.
Reprodução/MPF


A partir da permanência de Leite na direção de um dos braços do BRB, vários negócios foram fechados com o objetivo, segundo os delatores, de resultar em vantagens indevidas aos personagens envolvidos.

Segundo a denúncia do MPF, houve pagamento de propinas para investimentos em, pelo menos, dois empreendimentos: o FIP LSH (relacionado ao antigo Trump Hotel da Barra da Tijuca) e o FII SIA (relacionado ao empreendimento Praça Capital, desenvolvido pela Odebrecht Realizações e pela Brasal Incorporações).

A apuração indica que Henrique Neto fazia o elo entre as empresas e o grupo BRB. Ele teria cobrado e recebido, em caixa 2 ou ocultamente, valores milionários de cada investimento de ações do SIA e LSH feito nos respectivos fundos administrados pela instituição financeira. Ele é sócio e gerente da corretora BI Asset Management (BIAM DTVM), onde o filho também trabalha.

A investigação aponta que, entre 2013 e 2016, Henrique Leite tinha duplo papel. Ele exercia a função primordial na autorização dos investimentos requeridos pelas empresas, na qualidade de diretor de Gestão de Terceiros da BRB/DTVM, com decisiva atuação em prol do Fundo SIA Corporate e LSH Hotéis. Ao mesmo tempo, atendia a pedidos do pai e ordens de Ricardo Leal, apontado na investigação como o chefe da organização criminosa.

Segundo os termos da colaboração premiada homologada pela Justiça, Henrique Domingues Neto terá que pagar R$ 9,2 milhões; e o filho, R$ 8 milhões. Eles também se submeteram à condenação de penas máximas de 16 e 14 anos de prisão, respectivamente.

Acusados pelo MPF dos crimes de manter organização criminosa, corrupção passiva, gerir fraudulentamente instituição financeira, desviar recursos e lavar dinheiro, Henrique Neto e Henrique Leite poderiam pegar 53 anos de prisão se levadas em conta as punições máximas previstas para os delitos.

O outro lado
Em nota à reportagem, a defesa de Rodrigo Rollemberg afirmou que as delações não encontram “amparo na realidade”. “Afinal, não houve dívida na campanha eleitoral de 2014. Todos os serviços contratados foram devidamente quitados antes mesmo da apresentação das contas, as quais foram aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-DF) ainda no ano da eleição, sem qualquer ressalva”, afirmou a advogada Gabriela Rollemberg, responsável pelas contas da campanha eleitoral do pai, em 2014.

“Essas informações podem ser confirmadas mediante simples consulta no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)”, acrescentou.

Advogada dos Henriques, Tathiana de Carvalho Costa detalhou ao Metrópoles os motivos que levaram os alvos da Circus Maximus a procurarem o escritório a fim de fazerem a colaboração. “O pai, que tem uma condição frágil de saúde, e o filho, por razões de foro íntimo, foram ao escritório decididos a formar os acordos.”

O Banco de Brasília tem reiterado que “apoia e coopera integralmente com todos os órgãos competentes que conduzem as investigações”.

Já o defensor do Grupo Brasal, Marcelo Bessa, disse que só poderá comentar se há implicação para o cliente quando tiver acesso ao teor das delações.

O LSH Lifestyle Hotel afirmou, em nota, que os fatos investigados se referem a um período anterior à atual administração. “Os atuais gestores têm colaborado com a PF e o MPF nas investigações. A direção está comprometida com uma gestão técnica, com o objetivo de, cada vez mais, melhorar a taxa de ocupação e o faturamento.”

A defesa de Ricardo Leal afirmou que não se manifestará sobre o conteúdo das delações.

Circus Maximus
A Operação Circus Maximus foi deflagrada em 29 de janeiro de 2019, mirando a cúpula do banco na gestão de Rodrigo Rollemberg. A ação apura irregularidades praticadas no BRB envolvendo fundos de investimentos, com a atuação de agentes públicos, empresários e agentes financeiros autônomos.

Ricardo Leal, Henrique Neto e Henrique Filho e mais 14 pessoas foram denunciadas à Justiça Federal. Os réus responderão por crimes contra o sistema financeiro, corrupção, lavagem de dinheiro, gestão temerária, entre outros.


As investigações apontam para prejuízos de, aproximadamente, R$ 348 milhões ao BRB, participantes de fundos de pensão e Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), poupadores e ao sistema financeiro nacional. O suposto grupo criminoso teria movimentado R$ 40 milhões em propina. Fonte: www.metropoles.com