Na manhã desta sexta-feira (27/4), o presidente se defendeu das suspeitas de lavagem de dinheiro e corrupção

O presidente da República Michel Temer (MDB) fez um pronunciamento enfático e raivoso, na manhã desta sexta-feira (27/4), sobre as investigações que o tornam suspeito de lavagem de dinheiro e corrupção por uso de dinheiro ilícito na reforma no apartamento de sua filha. O caso é alvo de inquérito na Polícia Federal, no âmbito das ações decorrentes da assinatura do Decreto dos Portos.


“Não tenho casa de praia, não tenho casa de campo, não tenho apartamento em Miami. Obedeço o teto salarial. Consegui comprar o que comprei. E pude reformar”, disse logo no começo do discurso, nitidamente contrariado. O emedebista, afirmou, não se deixará ser derrubado pelas acusações. “Há um ano disse que não renunciaria e mantenho esse compromisso”.
Apesar da agressividade das palavras, Michel Temer não deu explicações ou apresentou documentos contra as denúncias.
Em tom acima do normal, o presidente classificou as acusações como “ilações sem qualquer prova” e questionou ainda como a imprensa tem acesso a parte de processos investigatórios: “Minha defesa pede acesso aos autos do inquérito e a resposta é sempre que está em diligências e não é possível por conta do sigilo. Como a imprensa consegue?”
Além disso, o chefe do Executivo determinou uma apuração interna para descobrir como as informações são vazadas: “Se pensam que vão ficar impunes, não ficarão sem resposta. Os dados são fornecidos por quem preside o inquérito. Vou sugerir ao ministro Jungmann [da Segurança Pública]  apurar internamente, como se dão esses vazamentos”.
O discurso de Michel Temer não constava da agenda oficial nesta sexta (28). Em princípio, ele iria receber o presidente do Chile, Sebastián Piñera, no Palácio do Planalto, às 11h. A mudança nos planos ocorreu após a publicação de matéria no jornal Folha de São Paulo.
De acordo com a reportagem, a Polícia Federal identificou indícios de que o presidente teria usado dinheiro de propina para fazer reformas em imóveis dele, da primeira-dama Marcela Temer e de seus herdeiros. O envolvimento da família nas denúncias contra ele o deixou extremamente irritado.
“Sei me defender, especialmente defender minha família e meus filhos”, destacou. Disse sofrer uma “perseguição criminosa disfarçada de investigação” e que, se pensam em derrubá-lo, “não vão conseguir”.
“Só um irresponsável mal-intencionado teria a intenção de colocar a minha família e meu filho de 9 anos como lavadores de dinheiro”, completou.
Operação Skala
A investigação da PF sobre o Decreto dos Portos já prendeu dois amigos pessoais do presidente e aponta Temer como receptor de pelo menos R$ 2 milhões. O coronel João Baptista Lima e o advogado José Yunes prestaram depoimentos, ainda sob sigilo, e foram soltos em seguida.
Lima é peça chave do inquérito e sua figura aparece no depoimento do empresário Ricardo Saud, ex-JBS, como receptor das propinas pagas a Temer. Um dos fornecedores da reforma no imóvel de uma das filhas de Temer (Maristela) disse que o serviço teria sido pago em dinheiro vivo, entregue por Maria Rita Fratezi, mulher do coronel Lima.
Temer só pode responder judicialmente às acusações quando terminar o seu mandato à frente da Presidência, conforme decisão da Câmara dos Deputados. A PF afirmou ao Metrópoles que não vai se manifestar sobre o discurso.
Decreto dos Portos
Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) mostrou que o Decreto dos Portos abriu brecha para beneficiar empresas com contratos mais antigos e ainda não regulamentados. Entre elas, a Rodrimar.

Além disso, o texto amplia de 50 para 70 anos o tempo das concessões portuárias. A Rodrimar explora três áreas no Porto de Santos, em São Paulo, mantidas por liminares da Justiça.
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