O que esperar de uma campanha protagonizada por Debi e Lóide? (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil; Cristiano Mariz/VEJA)
Na última semana, uma matéria da edição impressa da Veja fez
um levantamento dos hábitos de leitura dos dois primeiros colocados nas
pesquisas para as eleições presidenciais de 2018. Ou melhor, um levantamento
dos hábitos de não-leitura, já que Lula e Bolsonaro dão provas abundantes de
que consideram os livros um mal desnecessário — e desnecessário é a palavra
para eles.
— Há três ou quatro anos eu não tenho tempo para falar em
livro — disse Bolsonaro. — Eu fico no WhatsApp.
— Vejo televisão — disse Lula. — Quanto mais bobagem, melhor
para mim.
Eis o perfil intelectual dos homens que se apresentam para
ocupar o cargo mais importante do país. Não é de admirar que sejam ambos
estouvados, teimosos, arrogantes e autoritários — características típicas de
quem usa a ignorância como troféu.
Muito já se falou sobre o medo ou mesmo o ódio que o
brasileiro médio possui dos livros. São sentimentos que se manifestam tanto no
iletrado que não concluiu o fundamental quanto no universitário que se gaba de
ter conseguido o diploma sem nunca entrar numa biblioteca.
Por que seria diferente com os homens públicos?
O simples fato de fazermos essa pergunta demonstra o beco
sem saída em que se encontra o Brasil. Pergunte a qualquer presidente europeu o
que ele está lendo e receberá uma resposta na ponta da língua — mesmo que seja
mau leitor, citará títulos relevantes porque sabe que também será avaliado por
suas leituras.
É claro que o truque não serve para Lula, Bolsonaro e a
esmagadora maioria dos políticos brasileiros. E é isso o que mais impressiona
na dupla de presidenciáveis. Ainda pensam que livros são enfeites ou passatempo
de ociosos, e não fontes de ideias capazes de construir uma visão de mundo
decisiva no comando de uma nação.
Ideologias à parte, se Lula e Bolsonaro lessem um pouco, mas
só um pouquinho, deixariam de proferir 90% das barbaridades irresponsáveis que
estão incitando ódios primários entre a população. A despeito de suas origens
humildes, uma eterna desculpa esfarrapada para o despreparo intelectual,
tiveram tempo de sobra para se aproximar e se beneficiar dos livros.
A matéria da edição impressa termina com uma história que
indica o abismo em termos de leitura existente entre nós e o mundo anglófono.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o presidente americano Franklin Roosevelt e o
premiê britânico Winston Churchill comemoraram uma ação militar bem-sucedida
recitando trechos de Shakespeare um para o outro.
A cena é impensável no nosso caso, a não ser como piada, e
tanto faz se fosse Lula ou Bolsonaro a ocupar o Palácio do Planalto. Ligaria o
presidente de Portugal e faria uma citação d’Os Lusíadas. Diante do silêncio ao
telefone, explicaria que é uma obra de Camões.
— É uma testemunha pra mim? — diria Lula. — Não? Então cadê
as prova, companheiro?
— Deixa o vagabundo comigo — diria Bolsonaro. — Prendo e
mando torturar.
Fonte VEJA
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