O “Fora, Temer” ecoou no “Fantástico”, a revista eletrônica mais tradicional da tevê brasileira. Há pouco mais de um ano, está em todos os cantos. Do Rock in Rio ao Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, coxinhas, mortadelas e pamonhas enterram suas ideologias imediatas e enchem os pulmões para expulsar o presidente do PMDB investigado por corrupção. Não é diferente nas redes sociais. Os posts espontâneos que pedem a saída do mandatário do país sucedem-se como se fossem patrocinados.



No entanto, nada acontece. O presidente Temer fica, toca as suas reformas impopulares e transforma o Congresso Nacional num subpoder, com deputados e senadores arregimentando as suas emendas milionárias de apoio. Todos riem da população inconformada. As denúncias gravíssimas feitas pela Procuradoria-Geral da República escoam pelo ralo.
Parece que o Brasil vive o tempo de “Esperando Godot”, clássico moderno de Samuel Beckett, marco da dramaturgia mundial. Na peça, dois vagabundos, desiludidos e sem esperança na vida veem o destino se firmar como uma muralha diante deles. Não têm mais sonhos. Pensam em se enforcar numa árvore, um salgueiro chorão, que testemunha tudo e parece ser o único ser que se transforma, ganhando discretas folhas. Quando esboçam reação, dizem um ao outro: “Então, vamos?”. Mas ficam parados, atônitos, sem reação.

O “Fora, Temer” corre o risco de se transformar em nosso “Então, vamos?”. O grito anestesiado que não nos leva a mais nada, a não ser ao ato de gritar, repetir e seguir o cotidiano. É o analgésico para a dor que não passa.
Por que não estamos nas ruas? Perdemos a fé nas nossas ações políticas? Estamos diante de um Brasil em risco de retrocessos perigosos"
Censuram a arte com facilidade em nome de dogmas religiosos. A liberdade de expressão é a coluna vertebral da democracia. Não se pode fechar exposições, arrancar quadros, prender artistas e cancelar peças por não se ter estrutura para enfrentar inquietações humanas. Confundir quadros com crimes como pedofilia é sintoma de que estamos com febre alta, à beira da convulsão.

As concessões abertas são fendas para um abismo, que se estende à insegurança do Estado. As religiões de matrizes africanas estão sob terrorismo. Uma milícia armada e de Bíblia em mãos obriga humanos a espatifarem no chão o seu sagrado.

Em outra ordem humanista, psicólogos evangélicos querem alterar a Resolução nº 01/1999, que proíbe sessões de cura gay. O avanço de forças conservadoras estão em toda parte. Querem uma educação acéfala nas escolas. Querem acabar com o conceito de estado laico.
Não podemos continuar a dizer só “Fora, Temer” e ficarmos inertes como os dois vagabundos de Godot"


A impotência deste instante é o ponto de virada. Estamos às vésperas das eleições. É preciso dizer “não” a esses parlamentares que riem da nossa cara e nos transformam em “pamonhas”.
O “Fora, Temer” precisa ser o grito dos indignados. Só assim o Brasil poderá ser um outro Brasil.
metropoles.com
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